Da Bahia para o mundo: Oda Cairu lança a seu primeiro trabalho musical autoral

Natural do Arquipélago de Cairu, no Recôncavo Baiano — território que compõe seu nome artístico como gesto de resgate ancestral Tupi-guarani — Oda é uma artista interdisciplinar que transita entre a música, performance, moda e artes manuais. Trans, cantora, compositora, modelo e artesã autodidata, ela desenvolve sua produção entre Salvador e São Paulo, a partir de atravessamentos reais, rituais, afetos e memórias que se corporificam em arte. Sua trajetória é marcada pela desobediência dos corpos normativos e pela força de sua fé, sendo o candomblé uma das potências que move seu processo criativo.

Desde sua primeira aparição musical, em 2020, no Dia da Visibilidade Trans na Defensoria Pública da Bahia, Oda vem construindo um caminho singular. Passou por palcos como Casa Natura Musical, Bourbon Street Music Club, Casa de Cultura Somovimento, Pinacoteca de São Paulo e festivais como Aceita (Belém/PA), além de integrar performances de moda e arte em eventos como a Casa de Criadores. Em 2024, realizou residência artística na Casa Líquida, dentro do projeto “Cruza”, onde aprofundou sua pesquisa intitulada ExperienciAçãoMusical, unindo canto, dança e performance como práticas vivas de cura e expressão.

Logo no início do trabalho, Oda entoa uma cantiga tradicional dedicada a Exu, compartilhando com o público a força de sua religião, o candomblé. Essa abertura potente reverbera ao longo de toda a obra, que ainda traz a interpretação de “Coração do Mar”, poema de Oswald de Andrade eternizado na voz de Elza Soares, além de duas faixas autorais: “Nosso Diferente” e “Intencionada”. As composições revelam sua profunda pesquisa sobre afeto, identidade e criação como rito.

Gravado durante a residência artística no programa Cruza, na Casa Líquida (SP), o projeto é um gesto de retorno simbólico ao Arquipélago de Cairu, no Recôncavo Baiano — território de onde Oda vem e que compõe seu nome artístico. Com direção de Vicente Otávio, produção da Cigarra Filmes e apoio da Electrica Cinema e Vídeo, o trabalho é uma obra icônica de som, imagem e presença.